Impermeabilização inteligente em pátios: conter contaminação sem colapsar a drenagem urbana

Autor: MSc. Eng. Ademilson Ribeiro | Mestre em Meio Ambiente Urbano e Industrial

Introdução

A entrada em vigor da IN IAT nº 25/2025 redefiniu o processo de licenciamento ambiental de pátios de caminhões e contêineres no Paraná, trazendo maior rigor na exigência de sistemas de drenagem capazes de segregar e controlar águas pluviais potencialmente contaminadas. O objetivo é claro: prevenir contaminação do solo e corpos hídricos sem descuidar do controle do escoamento superficial.

Entretanto, a aplicação prática dessa exigência tem provocado um debate técnico relevante: todo pátio precisa ser 100% impermeabilizado? Ou, considerando o baixo histórico de acidentes ambientais associados a operações secas, seria mais eficaz e sustentável adotar soluções híbridas, com impermeabilização apenas nos pontos de risco real e pavimentação drenante nas áreas restantes?

A resposta mais coerente, técnica e economicamente, reside no segundo caminho.

Quando impermeabilizar faz sentido

A impermeabilização integral é plenamente justificável para:

  • Áreas de armazenamento de fertilizantes, combustíveis ou produtos químicos;
  • Zonas de manutenção e lavagem de veículos;
  • Locais com histórico de vazamentos ou infiltrações.

Nesses casos, barreiras físicas contínuas (concreto aditivado ou geomembranas) associadas à caixas separadoras e tanques de contenção são medidas adequadas e responsáveis. O inverso, impermeabilização integral sem solução hidráulica estruturada, tende a piorar:

  • risco de alagamento interno e no entorno;
  • aumento da contribuição de vazão para o sistema público já saturado;
  • criação de ilhas de calor e impactos urbanos adversos.

Ou seja: a impermeabilização cega pode resolver um risco mínimo e criar outro muito maior.

Quando a solução híbrida é mais racional

Nem todo pátio precisa de impermeabilização total como prevenção aos riscos ambientais. Deve haver proporcionalidade técnica e coerência com o risco real da operação. Pense na rotina de uma casa. Não faz sentido colocar piso cerâmico impermeável em todos os cômodos apenas porque existe risco de água no banheiro e na lavanderia. O correto e mais inteligente é impermeabilizar apenas as áreas molhadas, enquanto nos demais ambientes utiliza-se piso comum, confortável e adequado ao uso. Impermeabilizar a casa inteira seria caro, desnecessário e tecnicamente injustificável, sem nenhum ganho real de segurança.

As soluções híbridas, combinando áreas drenantes e barreiras localizadas, parecem ser mais razoáveis, pois podem mitigar o risco, reduzir custos e evitar impactos urbanos. Para a maior parte dos terminais e pátios logísticos, onde:

  • Não há manipulação direta de produtos contaminantes;
  • A movimentação é predominantemente seca;
  • A operação se restringe a circulação e estacionamento, a impermeabilização total não apresenta relação proporcional entre custo, risco e benefício ambiental.

Nos últimos dez anos, o histórico de acidentes ambientais em pátios de caminhões e terminais logísticos no Paraná revela um dado importante: embora existam registros pontuais consultáveis nos sistemas oficiais de monitoramento ambiental, tais eventos são exceções raras e frequentemente ligados a falhas externas (como furtos em dutos ou incêndios estruturais), não à operação regular de pátios secos.

Além disso, não há evidências de padrão recorrente de contaminação ambiental em áreas de circulação e estacionamento onde não há manipulação de substâncias perigosas. Esse cenário reforça a importância de decisões técnicas baseadas em proporcionalidade de risco.

Dito isso, há de se convir que a prática mais eficiente é a impermeabilização inteligente com setorização por risco, podendo ser adotado:

  • Barreiras físicas apenas em áreas críticas (transbordo, manutenção, abastecimento);
  • Pavimentos drenantes ou intertravados nas zonas de circulação e filas;
  • Segregação dos fluxos (água potencialmente contaminada vs água pluvial limpa).

Esse modelo reduz CAPEX[1] e OPEX[2], diminui o impacto hidrológico e atende integralmente às medidas de mitigação ao risco de contaminação das águas e solo.

Importante destacar que essas soluções são tecnicamente aceitáveis desde que haja comprovação de que, eventual a água pluvial contaminada e águas não contaminadas são segregadas.

Ainda nesse item, é recomendável que o Plano Básico de Controle Ambiental dialogue com o projeto de drenagem municipal (caso haja), prevendo o controle de vazões de pico e a não sobrecarga das galerias urbanas.

Conflitos regulatórios: estadual × municipal

Enquanto o IAT exige contenção rigorosa de águas que podem eventualmente vir a apresentar contaminação, os Planos Diretores Municipais limitam a impermeabilização total por razões urbanísticas e climáticas (mitigação de ilhas de calor, controle de alagamentos). Portanto, a melhor estratégia é:

  • Compatibilizar o PBCA com o Plano Diretor e o Plano de Drenagem local, onde há uma área mínima que deve ser mantida permeável;
  • Submeter previamente o croqui de drenagem à prefeitura para evitar retrabalhos.

Conclusão: impermeabilizar com inteligência, não por reflexo

A impermeabilização inteligente não nega a proteção ambiental, ela a aprimora, equilibrando:

  • Segurança técnica real (onde existe risco concreto)
  • Responsabilidade urbana (drenagem e resiliência climática)
  • Eficiência econômica (evitando custos desnecessários)
  • Conformidade legal, sem extrapolações

Resultado esperado: melhor imagem institucional e soluções sustentáveis alinhadas à engenharia aplicada e ao interesse público.

Pergunta central a cada projeto: qual risco real estamos prevenindo – e a solução proposta é proporcional a ele?


[1] CAPEX (Capital Expenditure) refere-se ao investimento inicial em infraestrutura.

[2] OPEX (Operational Expenditure) diz respeito ao custo de operação e manutenção contínua.

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